Crente Raiz X Crente "Nutella"


Tem um humorista de stand up comedy que fala de forma muito divertida sobre esse tema, o nome dele é Daniel Lopes. Depois procurem no YouTube. Mas, fugindo da abordagem humorística, fico a pensar na diferença entre os crentes mais antigos e os atuais, ou entre os "sem frescura" e os moderninhos. Quem me conhece sabe que gosto de tecnologia, de modernidades, que tenho a cabeça aberta para novas linguagens. Ou seja, não sou um cara preso ao passado. Porém também me considero conservador em muitos aspectos. A intenção não é generalizar, não é traçar um dualismo barato, mas sim oferecer uma reflexão didática. Que cada cristão reflita como tem vivido sua fé no Corpo - e assim busque ser melhor pra glória Dele.

Retiro
Antigamente bastava um local com dois salões amplos, que comportassem algumas dezenas de colchonetes, e dois banheiros grandes com uns três canos de água gelada cada, que o retiro poderia ser realizado. Limpar as dependências do retiro era parte da programação. E vou te contar: a presença de Deus era maravilhosa, saíamos impactados pelas mensagens e momentos de oração e louvor.

Hoje a galera quer saber se terá serviço de quarto completo, frigobar, ar condicionado, suíte, piscina aquecida e quadra poliesportiva. Nada contra, eu gosto dessas coisas. Mas parece que o foco de muitos mudou. Sem essas facilidades de forma alguma cogitam viajar. Você até sai do retiro com novos amigos, mas será que ainda saímos impactados pelo poder de Deus?

Serviço
Eu tenho a impressão que antigamente mais pessoas viam o serviço no templo ou em atividades externas como um privilégio, não importando quais fossem. Sabiam que estavam fazendo para o Senhor. Desde varrer o chão da igreja, até recolher dízimos e ofertas, ou participar do grupo de intercessão, ou visitar doentes nos hospitais: tudo era feito com muito amor e temor.

Hoje vejo muitos tirando o corpo fora: não querem trabalho, só veem as dificuldades, acham natural poucos se sacrificando ao máximo para eles serem servidos. Não se importam com professoras que não assistem o culto para ficar com os filhos deles, ou com o irmão que fica no estacionamento todo domingo. E reclamam como se alguma eventual contribuição pagasse o trabalho voluntário dos outros. Infelizmente.

Música
As letras exaltavam o ser de Deus, Suas qualidades morais distintas, Sua misericórdia, Sua obra na cruz. Tinham conteúdo bíblico, tinham poesia e melodias lindas.

Muitas músicas hoje exaltam o homem, colocam Deus apenas como um servo das vontades humanas, consistem em palavras de autoafirmação ("eu vou viver uma virada", "eu posso", "eu vou alcançar"). Ou, quando são de adoração, são pobres em poesia e repetem fórmulas melódicas de sucesso. Cadê a criatividade? Cadê a adoração de fato espontânea?

Constância
Eu lembro que desde cedo fui acostumado pela minha mãe a não faltar à escola bíblica e aos cultos - exceto se estivesse doente. Cresci considerando os momentos de culto muito importantes e, até hoje, sinto um vazio enorme se falto. Deus está em todo lugar, mas há uma graça especial derramada na congregação. Fomos feitos para crescer juntos.

Atualmente muitos mais faltam do que comparecem aos cultos da igreja - e, por eles, tudo bem. Parece que ser igreja junto com a igreja é mais um fardo do que uma alegria. Escolhem qual domingo irão conforme quem for pregar, cantar, ou ainda conforme a programação da TV no dia. É o evangelho "self service". Tem também os desigrejados, que rasgaram páginas da Bíblia para justificar seu isolamento (sim, entendo que cada caso é um caso, e muitos estão feridos com a instituição, mas me refiro aos que se acostumaram a isso e tentam defender biblicamente tal posição).

Vida Devocional
Antigamente eu ouvia mais "vamos ver o que a Bíblia diz acerca disso", "vamos orar a respeito disso", ou "em meu lugar, o que Jesus faria?". Por isso sempre fomos considerados "os Bíblias" - uma tentativa de ofensa, mas que na verdade é um elogio. Claro, podemos refletir, questionar, traçar paralelos, abordar de forma contextualizada - Deus nos deu inteligência pra tudo isso. Mas a Bíblia precisa continuar tendo o lugar de Palavra de Deus que é.

Incrivelmente há muitos cristãos que não leem a Bíblia, que não sabem o nome de todos os seus livros, que emitem opiniões muito mais na base do "eu acho" do que no "que a Bíblia diz". Que só oram quando precisam de algo, e depois se acomodam a sua religiosidade conveniente. Que se acham muito bons, que acham que Deus lhes deve algo, que não se deixam confrontar pela Palavra. Que pecam publicamente sem o mínimo de vergonha. Que se acomodaram como um cristão "médio" de seu tempo.

Enfim...

Eu poderia escrever muitas outras coisas, mas acho que está bom. Ninguém é perfeito, nem livre de ser afetado por comportamentos "Nutella". Por isso, todos precisamos nos arrepender. A essência que perdemos, resgatar. E em outras questões não essenciais, tudo bem, avançar. Buscar ter e ser Raiz - não no tradicionalismo vazio de sentido, mas em Cristo, nossa Rocha. Nele cresceremos e daremos frutos para este mundo faminto da Verdade.

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