O Crente e o Dinheiro (Parte 2)


"Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mt 6.19-21)

Quem achava que o Sermão do Monte era apenas um outro nome para As Bem-Aventuranças? Pois o texto acima também faz parte do referido sermão, aquela maravilhosa mensagem transmitida por Jesus aos seus discípulos de todas as épocas. Nele encontramos princípios para uma vida feliz, conselhos de valor incalculável para o homem que deles se apropria. Quer ser uma pessoa rica, no melhor sentido dessa palavra - que já adianto que não é o material? Então comece meditando sobre os ensinamentos do Sermão do Monte!

O nosso tempo é um tempo de transição e contradições. De um lado vemos uma sociedade alicerçada sobre o sistema capitalista e embelezada por ele (leia-se: o consumismo é a regra de vida, o ter é sinônimo de ser, a busca desenfreada por lucro uma prioridade, etc) e um individualismo doentio (redundância proposital) que retroalimenta as patologias do homem contemporâneo e o sistema. De outro lado, porém, também vemos um homem que busca o transcendente, o místico, que está atrás de Deus (ou de deuses), que prega uma fé na fé. "Tudo bem, desenhamos algumas linhas desse globo. E daí, Leandro?" E daí que o evangelho de Cristo se torna desconfortável para nós e conflitante com nosso sistema e até com nossa "fé" quando nos desafia a colocar os bens materiais no lugar em que devem estar em nossas vidas. E a dar a Deus o lugar de primazia.

Sim, eu poderia escrever sobre este último aspecto: dar a Deus o primeiro lugar, ajuntar tesouros espirituais, etc, etc. De certa forma, o que escreverei é sobre isso também, é parte de uma mesma realidade. Mas hoje eu gostaria que você guardasse uma coisa: a generosidade é mais do que uma ação, ela é o estilo de vida do cristão. Jesus nos chama a olhar a vida sob uma nova perspectiva e a investir nossos recursos materiais de forma responsável e corretamente motivada. Então vejamos por quê a passagem em referência nos chama a uma postura de generosidade:

1. Alinha o nosso coração, ensinando o desapego aos bens materiais
Os recursos financeiros e materiais são importantes, sem dúvida. Não só necessários para a sobrevivência, como proporcionam conforto e nos facilitam também na execução de projetos. Porém devemos lidar com estes recursos com responsabilidade, principalmente por sabermos de que na verdade somos mordomos sobre eles. Deus nos dá tendo em vista propósitos eternos e um deles (e talvez o mais importante) é o de repartirmos parte do que recebemos. Aprendemos então o desapego a ser exercitado. Que não podemos depositar nos bens nossa confiança. Eles são um meio, não um fim. E não trazem harmonia familiar, não trazem felicidade, não trazem saúde, nem paz.

2. O nosso exemplo é um legado que deixamos para nossos filhos naturais e da fé
O mundo prega a liderança pela força e poder. Mas Jesus nos ensinou a liderança pelo exemplo. Ele foi quem mais serviu, entregou, abriu mão. Quando assumimos uma postura correta nesta área, quando agimos com um coração generoso, servimos de inspiração para nossos filhos e discípulos.  Eu mesmo conheço várias pessoas que me inspiram, a quem vejo Deus prosperando financeiramente com o propósito de que invistam no Reino e em vidas. Uma delas é o meu discipulador, o Cal. Mas poderia citar várias. Enfim, vale dizer que não é necessário ser rico ou ter sobrando para ser exemplo nessa área. Na ocasião do desabamento no Morro do Bumba em Niterói eu pude ver isso. Pessoas simples e com poucos recursos repartindo este pouco com o máximo de pessoas que podiam. E Deus multiplicava estes recursos. Em meio à dor, o amor e a solidariedade imperavam. As pessoas abriam as portas de suas casas e se alegravam por isso. A generosidade, que faz parte do nosso caráter, precisa ser o nosso estilo de vida, não só em situações dramáticas, mas sempre. E naturalmente a luz de Cristo vai brilhar através de nós.

3. Adquirimos senso de missão, entendendo a efemeridade da vida
Esta vida de fato é passageira. Hoje somos, amanhã não sabemos. Então, o que somos mesmo chamados a construir nesta vida? Bem, uma delas é o Reino de Deus. E isso requer o investimento de nosso tempo, de nossas energias e de nossos bens, sem dúvida. Cada um de nós é parte disso! Somos a igreja e portanto responsáveis por essa missão no mundo. Investir no Reino é muito mais do que você possa estar imaginando. É ter olhos espirituais para ver onde falta e se mobilizar para suprir essa falta. É dar de comer ao faminto, é investir dinheiro e trabalho nos projetos de evangelização, é emprestar seus ouvidos ao que precisa desabafar e o seu ombro para quem precisa chorar. É fazer o que Jesus fez. Tem uma frase inesquecível para mim no livro "O Pequeno Príncipe" que diz que “o que é essencial é invisível aos olhos”. Tem tudo a ver com o que estamos falando. "Mas não é de dinheiro, Leandro? Dinheiro não é invisível!". Bem, se você acha que o foco desta reflexão é esse, embora o título sugestione isso, não precisa continuar lendo mais nada, pois infelizmente meu esforço foi em vão para com você. Mas a generosidade, o senso de missão, o amor são daqueles maiores bens que podemos ter. É o que realmente vale, o que nos impulsiona a viver, a sermos úteis para o próximo, a construirmos o Reino enquanto edificamos uns aos outros. O dinheiro terá sua participação, será o nosso servo e não o contrário. Aos olhos de muitos ignorantes significa perder. E realmente muitos com boas intenções perdem mesmo. Mas quando utilizamos os recursos com consciência, responsabilidade e generosidade estamos ganhando e muito. Estamos acumulando tesouros no Céu onde nem a traça nem a ferrugem corroem.

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