Marcha Para... Quem?


Ontem, segundo cálculos da Polícia Militar, reuniu-se cerca de 1,5 milhão de evangélicos em São Paulo para "marcharem" para Jesus. Eu sou do Rio e já participei, sobretudo na adolescência, de diversas "marchas" realizadas aqui e também de diversos "shows gospel". Mas confesso que tenho visto meu interesse diminuir por este tipo de evento.

E se não tivessem "astros gospel" nestas ocasiões? O público seria tão grande? Afinal, se o foco do evento é Jesus, estar lá para prestar culto deveria ser suficiente! Se fosse uma convocação para um grande clamor da igreja pelo nosso país, amplamente divulgado, mas sem nenhum cantor ou pastor famoso? As pessoas iriam? E, se resolvessem ir para ver qual é, será que ficariam mais do que 30 minutos?

E se fosse uma convocação para lutarmos pelos direitos dos fracos e oprimidos? Dos marginalizados da sociedade? Dos pobres e miseráveis? Pelos bombeiros e professores que são perseguidos por lutarem por um salário justo? Se fosse para nos levantarmos contra a violência em nossas cidades? Contra o tráfico de armas? E se fosse um grande mutirão de serviço em comunidades carentes, com distribuição de roupas e cestas básicas, além da prestação de serviços sociais? E se fôssemos sal e luz no mundo? E se... E se...

O problema é que o evangelho pregado por aí tem como foco o próprio homem e não a glória de Jesus. As pessoas querem ser servidas, querem receber, querem ter. Mas não servir, dar, ser. Fomos "comprados" pela indústria do entretenimento. Negociamos o que tínhamos de mais valor por um prato de lentilhas. Nos agarramos com força às promessas de "prosperidade" da antiga dispensação, sem contudo compreender nosso chamado, sem entender o que é graça, o que é sacrifício de louvor, o que é renúncia. "Sejamos nós exaltados e que Cristo diminua". Não temos coragem de dizer isso, mas não é o que trasmitimos com nosso comportamento?

Nada contra música em si, contra eventos bem produzidos, contra alegria. Muito pelo contrário! Minha crítica não recai sobre esses aspectos. Mas contra os discursos proselitistas denominacionais de certos líderes, o estrelismo de muitos cantores gospel e suas músicas centradas no homem, o foco errado e a alienação do povo em relação a muitas coisas. Isso é que é triste demais. E a falta de coerência, sinceridade! Se a marcha não é para Jesus, tudo bem. Coloquem lá então: Marcha Para Mim. Do contrário, teremos uma "Marcha Ré Para Jesus". O verdadeiro Evangelho de Cristo não mostra sua força através de números, mas através do que transforma ao redor daqueles que o vivem.

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