Desafio do Seminarista
22/07/11
Maria é uma jovem humilde, mas muito esforçada. Pelo menos, na visão de alguns. Proveniente de uma família simples (sim, não era uma família complicada como a maioria das nossas), Maria desde criança fora caprichosa e dedicada aos estudos: seus cadernos eram bem encapados, não tinham “orelhas”, eram enfeitados com adesivos diversos na capa (sobretudo estrelinhas); Maria era pontual no colégio, ia bem arrumada, sempre com um adereço colorido no cabelo e carregando sua mochila coberta de “glitter” para tecido e chaveiros de ursinhos. Ah, sim, Maria sempre tirava boas notas, e sua mãe, sempre que podia, lhe recompensava dando um “dinheirinho” para que ela fosse no seu lugar favorito: uma pequena lojinha de acessórios para meninas, adesivos, fitas coloridas, estojos rosas e prateados, linhas de costura, sacolés, guarda-chuvas, formas de alumínio de tamanhos diversos e, claro, trufas de morango (suas preferidas!).
Maria cresceu e todos tinham certeza de sua vocação: seria professora. Ela chegou a cogitar a idéia, deu algumas aulas particulares depois que terminou o Ensino Médio e chegou a ganhar um “dinheirinho” com isso. Queria ajudar a família agora, comprar um sofá novo, uma TV nova, um fogão de seis bocas, mas seu pai não deixou. Ele, sempre honesto e sem dívidas, disse: “Somos humildes e não precisamos de muita coisa. Se um dia o fogão quebrar e a gente precisar, você ajuda. Obrigado, filha. Guarde o ‘dinheirinho’ e realize os seus sonhos. Você merece”. Maria pensou. Qual seria o seu sonho?
Maria então, com seus vinte e três anos de idade, foi até a borracharia de seu pai na rua principal. Ela já tinha um sonho. Enquanto esperava que ele atendesse o cliente, ficou olhando para uma parede do lado de fora coberta por pneus ruins. Era um espaço bom e mal utilizado. Quando seu pai veio, sujo de graxa e suando, ela disse: “Pai, eu quero montar uma loja de variedades como aquela que eu ia, mas fechou! Este é o meu sonho. O senhor me daria este espaço dos pneus para eu construir?”. O pai ficou em silêncio por alguns segundos, pediu pro seu sócio ficar no comando e foi com sua filha tomar um caldo de cana. E disse: “Filha, eu trabalho no comércio há muitos anos e sei como é difícil. Nem sempre somos recompensados pelo trabalho árduo. Talvez como professora você tivesse uma remuneração mais certa. Já pensou nisto?”. Maria, sem titubear, respondeu: “Já, pai. Venho pensando nisso há algum tempo. Mas, assim como o senhor, estarei fazendo o que gosto, estarei feliz e, por isso, me sinto preparada para enfrentar as dificuldades”. O pai ficou olhando nos olhos da filha que, apreensiva, aguardava sua aprovação. A face cansada do pai foi aos poucos dando lugar a um sorriso que iluminou todo seu rosto. Maria o abraçou.
Já passaram três anos daquela conversa e Maria está radiante. Sua lojinha, embora “inha”, é a mais charmosa do bairro. Não, não ficou rica, não abriu novas lojas, não comprou um carro ainda – a moral desta história é diferente. Maria, como tantas por aí, descobriu que a verdadeira felicidade não está à venda: mora dentro de nós e desabrocha através das coisas simples da vida.
Pedro Henrique é um garoto mimado, mas muito mimado. Reclama de tudo, nunca está satisfeito: “Caramba, pai! O senhor não faz nada que eu quero! Eu odeio você!”. Considera seus pais, que são ricos, muito injustos e maus por não lhe darem tudo o que quer – o problema é que ele quer exatamente tudo! PS3, XBox 360, Kinnect, Wii, PSP, Nintendo DS e 230 cartuchos originais. Muito pouco. Bicicleta, carro de controle remoto, TV 60’ LED, aparelho de Blu-ray 3D, home theater, móveis planejados no quarto, mesada de 1000 reais, viagens anuais pra Disney, internet 100 Mega, Mac, notebook, netbook, iPad, iPhone, “iCaramba”. Estas coisas o Pedrinho já tem. Agora só falta o “iTudo”. Difícil de realizar esse sonho.
Mas existe uma coisa que Pedrinho gostaria de ganhar, mas não sabe de que precisa. Pais presentes. Eles, que tentam aliviar suas consciências dando presentes, não têm noção do ser humano que estão entregando ao mundo. Pedro não quer presentes, quer pais presentes. É bem diferente. Ele quer ser disciplinado, que receber mais “nãos”, quer limites. Os pais que não querem dar. Uma guitarra nova custa menos do que dar educação, do que ensinar o valor do dinheiro, do trabalho, de limites na vida. Talvez estes pais também tenham confundido o próprio valor da vida: que não está em ter, mas em ser. Certamente Pedro se tornará um playboy, filhinho de papai, com carro importado do ano e rodeado de mulheres bonitas. Não é o que todo mundo quer? Mas será também ganancioso, egoísta, insensível, acomodado, orgulhoso, aproveitador, sem escrúpulos. Trocará de namoradas sempre que enjoar do brinquedo. Mas será um medroso quando o pai morrer. E um suicida se um dia o dinheiro acabar.
Pedro não é feliz. Porque felicidade não se compra. Mas apenas uma criança. Como tantos adultos por aí.
Espero que tenham gostado e refletido a partir destas histórias. O problema não é ter ou não dinheiro: mas o lugar que damos a este na nossa vida. Você pode ser pobre e apegado demais ao que é material. Como pode ser rico e uma pessoa simples. A verdadeira simplicidade está dentro de nós e vai necessariamente se refletir na forma como lidamos com o que temos. E, se nos considerarmos “mordomos” do que Deus nos entregou, faremos um uso responsável e comedido destas coisas. Entenderemos que repartir é melhor do que acumular. E que não precisamos de muito para realizar nossos maiores sonhos. Seremos como Maria, João, Suzana, Priscila, Gustavo, Luís, Roberta, Helena, Rafael, Laura, Jesus.
Confira amanhã o último dia do Desafio do Seminarista!
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