Um (Nem Tão) Novo Modelo de Liderança


Recentemente li um artigo da revista Você S/A intitulado "O Líder Espiritualizado". A ênfase do texto recai sobre a mudança de paradigmas quando o assunto é liderança: o líder não é mais aquele que manda, mas aquele que serve, que dá o exemplo - como bem demonstra o livro "O Monge e o Executivo" de James C. Hunter. O líder espiritualizado é aquele que empreende esforços tendo em vista um alvo maior do que si mesmo: ele acredita nos valores e objetivos da instituição, tem um compromisso ético no que faz, valoriza de verdade sua equipe, sabendo que o bem-estar e a boa motivação desta são imprescindíveis para o sucesso de todos. Agora, uma pergunta importante: isto se aplica à igreja?

Trazer o conceito de liderança espiritualizada para dentro do contexto da administração eclesiástica deveria ser piada. Calma, antes de tirar suas conclusões, entenda por que digo isso! Quem nos deixou maior legado relativamente a estes princípios (sim, estes mesmos da liderança espiritualizada) senão o próprio Mestre reverenciado pelos cristãos? Jesus é o nosso maior modelo de liderança pelo serviço, dedicando toda a sua vida (e inclusive entregando sua própria vida) em favor de um plano maior do que si, em benefício de outros. Ele agia por um propósito; Ele servia por um interesse genuíno pelas pessoas; Ele amava. Isso deveria ser natural nas igrejas! Mas a realidade é diferente. Absorvemos uma visão secular (e já ultrapassada) de chefia e esquecemos quem somos. Por isso disse que deveria ser piada, mas não é. Empresas mudando, adotando princípios cristãos, e igrejas com uma visão arcaica e distorcida de liderança. Parece cômico, mas é um desafio para a liderança de hoje – e ainda mais pra do futuro.

Hoje os líderes eclesiásticos (pastores, presbíteros, líderes de ministérios, qualquer cristão que deveria assumir sua parte no Reino) se esquivam dessa abordagem. Não são "espiritualizados", muito menos espirituais. Não querem comprometer seu controle sobre os recursos materiais e humanos à sua disposição. “À sua disposição?”, alguém pode perguntar. Pois é, não deveriam estar "à sua disposição", mas à disposição de um propósito comum. Certamente deveriam. Igrejas se tornam então os “impérios particulares” desses líderes – o poder sobe à cabeça. Prevalece a vontade de um sobre a vontade de todos, custe o que custar. As pessoas perecem porque não marcaram gabinete pastoral ou não o obedeceram à risca. Outras lideranças não são estimuladas e nem desenvolvidas porque não se quer concorrência. Pior, não se fornece modelo de uma boa liderança - nem de vida mesmo. Então, alguns se iludem com as promessas desse tipo de líder e outros, ainda que observando o problema, capitulam, entregando-se a uma religiosidade de meros ouvintes. Ah, sim, há os que se desiludem pra valer: alguns destes buscam a reforma, a começar por si próprios, e outros deixam o barco e a fé, pois são feridos da guerra.

Um pastor servo é aquele que imita Jesus – não só na forma, mas sobretudo na essência. Cultiva os mesmos valores, entende os mesmos princípios. Prefere servir ao invés de ser servido. Está atendo às reais necessidades dos membros de sua igreja e faz o que está ao seu alcance para ajudá-las. Desenvolve novas lideranças, estimula cada um a crescer em direção ao seu potencial – e sente-se feliz por isso. E, considerando que tais princípios são divinos, certamente resultarão em bons frutos. Até os incrédulos estão descobrindo isso! Mas satisfaz mais à carne não atender ao espírito do Livro. Antes, atribuímos ao texto sagrado palavras que nunca foram ditas – mas que gritam dentro do obstinado pecador. Esse líder não sabe, pois aparentemente tudo está em ordem, mas está distante de uma verdadeira espiritualidade – que é melhor do que mera religiosidade. Sem abrir mão do que acreditamos, das doutrinas que embasam nossa crença, devemos agora exercitar o que tanto sabemos. O mundo carece de verdade, de cristãos que dêem o exemplo, que vivam a essência da liderança servil. Se não vivermos isso, as pessoas buscarão quem o viva – ainda que fora de nossas instituições.

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