Desafio do Seminarista? Que desafio? Eu não fiz nada. Quem faz são aqueles que estão todos os dias com as crianças e com os idosos. Que preparam o alimento, ensinam a higiene pessoal, levam ao colégio, brincam, ensinam o dever de casa, ouvem, choram, riem, chamam a atenção, disciplinam, gastam seu dinheiro sem colocar no lápis, ficam noites sem dormir, abrem mão de parte de sua liberdade, inserem as crianças em seus sonhos, sonham junto. Que medicam na hora certa, carregam pra lá e pra cá, dão banho, trocam fraldas, suportam os xingamentos, ouvem os mesmos pedidos de 5 em 5 minutos, conversam, dão justificativas pois a família não veio de novo, tentam aliviar suas dores, tentam achar um objeto perdido, devolvem a auto-estima deixada em qualquer canto, proporcionam música e atividades ocupacionais, bancam os idosos para não largá-los na rua, os inserem em seus sonhos, os ajudam a mais do que sobreviver. E o fazem todos os dias, seja dia comum, final-de-semana ou feriado. Esses são verdadeiros heróis anônimos. Têm uma missão dada por Deus, saibam disso ou não.
Antes de ir para o asilo fui comprar algumas coisas que faltavam para o "baile" deles. Usei aspas pois quase todos eles mal levantam da cadeira - e os que andam o fazem com muita dificuldade. Ou seja, provavelmente não iriam dançar. Mas teria um bolo, sanduíches de queijo minas, refrigerantes (menos Coca-Cola pois, segundo a responsável, os deixa muito agitados) e bolas pretas e brancas enfeitando (para dar um ar de baile, pelo menos). Não consegui quem baixasse as músicas que eu queria pra eles, então comprei na Americanas um CD com clássicos do samba mesmo - pelo menos ontem havia visto e ouvido eles cantando vários sambas junto com o tecladista voluntário. Chegando ao asilo, me disseram que uma família havia decidido comemorar o aniversário de uma das idosas também. Então havia tudo em dobro pra eles - e é claro que vão comer bolo outro dia da semana também. Enquanto eu e Milene (minha amiga que doou o bolo e foi ajudar) enchíamos as bolas na cozinha, uma idosa passava pra lá e pra cá toda descabelada e com cara de que não entendi. Perguntava: "O que é isso aqui?", ao que respondíamos: "É a sua festa!". A cara emburrada dava lugar a um largo sorriso e um gritinho. Eu e Milene tentávamos em vão conter o riso, que não era de zombaria, mas pela cena atípica.
As outras senhoras também ficaram muito feliz por nossa presença lá. Muito mesmo. Me elogiaram por eu ter me arrumado um pouco melhor para vê-las. Novamente dei atenção a cada uma - agora com mais uma ajudante. Os senhores também se alegraram por nossa presença. Depois chegaram também as queridas Miminha e Sheila, que são da minha igreja. A sensação era de festa mesmo e as idosas nos ajudaram sugerindo onde ficariam as bolas. Durante a festa todos comeram bem, o que fiz questão de saber fazendo as vezes de um maitre de restaurante. Ao fim da festa, conversei um pouco mais com dois idosos homens: seu Antônio Carlos e seu Rodolfo, cada qual na sua vez. Criamos uma amizade bacana. E depois conversei bastante com a responsável pelo asilo, dona Adiléia, que me explicou as dificuldades que enfrenta ali pra mantê-los e o quanto dedica de sua vida por esta causa, chegando a derramar algumas lágrimas enquanto me contava. Mas não o fez reclamando ou pedindo dinheiro, mas em resposta a algumas perguntas que fiz. Eu passei a admirá-la ainda mais pois percebi verdade, sinceridade no que falava. Tantas pessoas com condições em nossa sociedade, por que não doar um pouco de sua riqueza pra quem precisa? Por que não investir em pessoas pelo simples retorno de vê-las feliz? Por que a sociedade civil finge que não vê estes lugares? Que utopia capitalista é essa que vivemos? E vocês, defensores do socialismo marxista, cadê as ações práticas de sua teoria que juram que não é utópica? Religiosos, cadê o amor ao próximo pregado?
Aqui no blog sou só uma voz. E na sociedade um cidadão que busca fazer a sua parte, mas ainda está muito aquém do que pode fazer. Quero semear um exemplo pra que seja seguido por todos aqueles a quem estas palavras tocam. No início do mês visitei minha avó que está hospitalizada em São Paulo e me segurei pra não me emocionar. Precisava sorrir, mostrar meu carinho, força, elogiá-la, prover esperança. E no dia seguinte o carinho que demos já havia surtido grande resultado em sua saúde. Precisamos encorajar uns aos outros e solucionar cada problema de nossa sociedade. Quem sabe nosso amanhã não será diferente também? Quem sabe o que chamamos de problema não venha a ser uma luz forte, no fim do túnel, o início de um novo mundo? Quem sabe a vida não se torna mais do que uma mera tentativa de sobrevivência? Quem sabe não deixamos um legado melhor para as gerações futuras? Estarei aqui com a mão estendida para caminharmos juntos e, a uma só voz, cantarmos a canção do amor.
*A pedidos, não estarei publicando as fotos que tirei com os idosos a fim de preservar suas identidades e evitar assim constrangimentos com seus familiares.
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