DS 2012: Que Dia Feliz!

Dia 2: Segunda, 16 de julho de 2012.

Sempre gostei de comemorar meus aniversários. Para mim é uma data de um simbolismo único, pois mais do que "celebrar" o estar ficando mais velho celebra a própria vida! E esta é uma dádiva de Deus! Conheço pessoas que não gostam de comemorar seus aniversários. Aí, quando você vai conversar sobre o assunto, o motivo sem querer aparece: os pais não faziam festa, só davam roupas ou um par de meias de presente (e olhe lá), alguém muito querido morreu em data próxima, tiveram algum aborrecimento que as marcou em festinhas de aniversário. Contudo, eu acredito que aniversários devem nos fazer olhar para o futuro: para as possibilidades que estão aí, para as que aparecerão, para o dom da vida que nos possibilita dar mais um, dois, um milhão de passos - e assim avançarmos. Olho para o passado e para o presente também: para agradecer o favor divino que tem me sustentado até aqui.

Hoje foi o aniversário mais inusitado que vivi - e um dos mais especiais. Fui para o orfanato pela manhã, sendo recebido com carinho por todos. De cara me apaixonei pelas crianças, cada uma de um jeito: umas sorridentes e comunicativas (como a Bruna*, uma menina de 4 anos linda e super simpática), outras tímidas só olhando com um leve sorriso (só alguns) e um deles (que vou chamar de João), mais introspectivo, continuou de cabeça baixa desenhando. Aliás ele desenha muito bem! Quando cheguei eles estavam tendo aulas de desenho e pintura, colorindo com hidrocor e guache desenhos impressos. Auxiliei eles na atividade até a hora do almoço. Até lá já tinha decorado o nome de quase todos - umas 12 crianças comigo naquele primeiro momento, embora o orfanato abrigue 21 crianças no total. Eles demonstraram felicidade por eu estar ali com eles almoçando - e, tal como as crianças, num prato colorido de plástico (depois fiquei sabendo que para os adultos tinha pratos normais de porcelana).

Mal acabou o almoço as crianças me "carregaram" para a pequena quadra acimentada no quintal onde eles brincam de futebol, pique-pega, bandeirinha, etc. Embora o orientador tenha recomendado que esperassem um pouco pra correrem e brincarem na quadra, eles estavam empolgados demais. E eu de menos, pois tinha acabado de almoçar. Mas mesmo assim brincamos a tarde toda. De vez em quando eu pedia um tempo pra respirar e beber uma água. Senti a idade. Hehehe. Eu que não sou fã de futebol tive que jogar também. Contudo, a cada brincadeira, eu me sentia mais próximo deles - e eles de mim. Ver o sorriso em seus rostos, receber um monte de abraços a cada comemoração, me perceber criança outra vez. Isso não tem preço. Fiz uma mágica com uma moeda e pronto: só queriam saber que mágicas eu faria na quarta. E o que estávamos vivendo já era mágico demais pra mim.

No final da tarde conversei com uma das plantonistas e ela me explicou melhor a situação deles. Alguns sem nenhum dos pais, outros com um dos pais apenas (mas problemático demais para criar), irmãos cuja mãe havia se suicidado e o pai era dependente químico, outros que sofriam maus tratos. De apertar o coração. Esta plantonista me chamou então para dirigir o momento devocional deles antes do jantar. Não deu três minutos, veio uma palavra no meu coração: a história de Jonas. Após cantarmos três canções, eu expliquei a importância de estarmos no centro da vontade de Deus, apesar dos medos e inseguranças que sentimos. Falei sobre os momentos da vida em que estamos na "barriga de um peixe", mas clamamos a Deus e Ele nos ouve. Disse que cada um deles estava ali pois Deus tinha uma missão a cumprir em suas vidas e através delas. Que eles eram especiais, únicos, amados. Oramos e eu me despedi, mas só até amanhã. Ao saberem pela tia que era o meu aniversário, eles cantaram parabéns pra mim e me deram um abraço coletivo. O João, que eu mencionei acima, me abraçou muito forte e não me largava mais. Eu nunca vou esquecer desse momento, o qual recordo com lágrimas.

Fui me encontrar com minha família, pois havia combinado de jantar em comemoração ao meu aniversário. Foi bom, pois amo estar com meus familiares, rimos um bocado na mesa. Mas foi um momento parecido com muitos outros que já vivi. Mas o maior presente já tinha recebido: o amor de pessoas que não receberam amor dos seus parentes em aniversários ou dias comuns, o amor dos que sofrem por estar longe de um lar, o amor dos que precisam relembrar a cada dia o que é serem amados. Eu os admiro muito. Eles são a demonstração de que a vida vale a pena de ser vivida, apesar dos apesares.

*Estarei usando pseudônimos para as crianças aqui, a fim de proteger sua identidade e intimidade.

Confira hoje à noite o terceiro dia do Desafio do Seminarista!

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