O Mensalão Nosso de Cada Dia


Eu não sei se vocês sentem vergonha da política brasileira, mas eu sinto. Vergonha do meu país. Embora ame o Brasil, ou melhor, justamente por amar o Brasil fico muito constrangido e triste ao saber desses escândalos que quase todos os dias estampam as manchetes dos jornais. Gostaria que fosse diferente. Um país tão rico em belezas naturais, com um povo tão simpático e alegre, com tanta gente talentosa e batalhadora, com tanto potencial industrial e comercial, ainda se vê refém de uma politicazinha de quinto mundo. Corrupção certamente existe em toda parte, mas o Brasil é um dos piores no ranking mundial! E o mais vergonhoso: já nem nos incomodamos tanto; está no subconsciente coletivo que isso é normal. Absurdo!

Os ladrões continuam no poder. Sim, nós (no sentido da coletividade) os colocamos lá! E vamos reelegê-los! Não temos vergonha na cara mesmo. Não estou nem falando dos 38 réus da CPI do "Mensalão", mas dos outros safados blindados que escapam da justiça e continuam sorrindo pras câmeras, enganando gente ignorante por opção ou inocente mesmo. Parece que aquele barbudo de voz rouca nos remete ao Papai Noel, talvez por isso esteja acima de qualquer suspeita para um povo que adora um paternalismo. Certamente ele está certo: o Mensalão é uma piada. E deve ser mesmo, pois nós rimos ao invés de chorar. 

Nós não nos preocupamos com questões éticas e coletivas, mas com a conveniência urgente de políticas assistencialistas deficientes e a facilidade de endividamento nas Casas Bahia. Na hora de eleger ou reeleger um candidato, não pesquisamos sobre seu passado, sobre seu partido, não comparamos propostas. Reflexão política é coisa de professor, não é mesmo? Ou será que somos pragmáticos e impressionados demais? Assim como há 500 anos, trocamos nossa terra e nossa dignidade por um espelhinho - nele vemos nossa imagem refletida e, por ser pequeno, não vemos nada além de nós mesmos. "Podem roubar, mas deixem eu acreditar que estou levando também" parece ser o nosso lema. Somos tão ruins quanto os que acusamos, essa é a verdade.

Sonegamos impostos, guardamos o troco a mais que recebemos, damos um "jeitinho" pra driblar as papeladas exigidas de um negócio dito lícito, mentimos para as pessoas com as quais convivemos, omitimos a verdade com o intuito de gerar uma mentira mas sem o peso desta, somos indiferentes quanto aos problemas que não nos afetam (se o meu muro está caindo em cima da casa do vizinho o problema é dele), pagamos propina ao guarda, pagamos mal nossos funcionários podendo pagar dignamente, votamos num candidato que prometeu reformar a calçada da nossa casa ou igreja. Sendo sincero? Estamos sendo muito bem representados na política! Somos iguais aos safados que elegemos e depois condenamos! E nos sentimos politizados por darmos nossa opinião política, seja qual for. Quanta incoerência! Nós também temos os "mensalões" nossos de cada dia!

Nós, cristãos, precisamos ser os primeiros a mudar isso. Devemos rejeitar qualquer forma dessa politicagem, ainda mais se estimulada de púlpito. Este, aliás, deve ser o lugar onde se prega as boas novas de salvação, nunca onde se faz propaganda política de qualquer tipo. Desconfie dos candidatos e pastores que se prestam a isso, pois a ética falha deles agora certamente é/será falha em muitos outros aspectos também. Cristão precisa votar com a mente, com o raciocínio que Deus lhe deu. Cristão deve mostrar ao mundo que é inteligente e ético, que não é alienado, que se importa com os maiores problemas que a sociedade enfrenta, que não é conivente com políticos corruptos. A oração diz "o pão nosso de cada dia" e não o "pão meu", "o mensalão meu de cada dia". Dentro das meias dos crentes só devem caber os pés dos que anunciam o evangelho da salvação, mais nada, ok? Não vamos sacralizar o abominável nestas eleições.

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