Dinheiro

"É melhor ter pouco com o temor do Senhor do que grande riqueza com inquietação." (Provérbios 15.16)

O homem contemporâneo é extremamente materialista: seu conceito de sucesso geralmente gira em torno do quanto possui, seus relacionamentos muitas vezes em torno de um status derivado da condição social, muitos têm o se tornar rico como o alvo máximo a ser alcançado na vida. Por outro lado, perdura ainda aquele preconceito religioso histórico, que considera o dinheiro sujo, mau, avesso à espiritualidade. Será que é assim mesmo?

Nenhum dos dois extremos é saudável - e nem bíblico. Temos de ter muito cuidado com a teologia que trata o dinheiro como sinônimo de prosperidade, bênção de Deus - embora possamos ser abençoados por Ele com recursos financeiros. E, por outro lado, o dinheiro também não é um mal, a menos que você o torne um mal, que ele se torne o senhor de sua vida. Se for apenas um servo, um meio para se alcançar fins nobres e legítimos, se tratar-se apenas de recurso para facilitar a missão específica de vida - sendo que a básica é ser Nele, através Dele e para Ele - então o dinheiro será bênção. Nossa segurança e confiança não devem estar no que possuímos, mas no Deus que nos acompanha. Isso significa que Ele é suficiente nas nossas vidas - tenhamos muito dinheiro ou não.

O provérbio em questão, embora transmitindo sua mensagem através de uma antítese, não pode ser encarado como um maniqueísmo: pobreza boa versus riqueza má. Mas nos ensina algo surpreendente: o temor ao Senhor é a maior riqueza que podemos ter - e traz contentamento, apesar de um contexto de escassez material. Do que adianta ter muito e não ter paz? Do que adianta ter uma vida abastada de bens e vazia de sentido?

Podemos ser ricos e ao mesmo tempo possuirmos temor a Deus? Certamente. As riquezas não ditarão nossa agenda, mas serão colocadas à disposição do Reino. Não serão fruto de sórdida ganância, mas consequência natural de muito trabalho - realizado de forma digna e ética.

Mas e se Deus, por Sua soberania e sabedoria, reservar para nós uma vida financeiramente humilde? Ele estará sendo mau? De jeito nenhum! Ele sabe exatamente do que precisamos e nos supre. O que precisamos é depender Dele sempre - não permitindo que o materialismo travestido de autossuficiência ou de ansiedade nos atrapalhe.

Se profissionalmente fazemos nossa parte, se procuramos ser bons em nossas áreas, se estamos acompanhando as constantes evoluções no mercado de trabalho, e corremos atrás dos nossos objetivos, então devemos descansar que o Senhor abrirá as portas que Ele quiser abrir.

Mas é uma opção não buscar tanta progressão profissional, ter alvos econômicos modestos? Sim. É pecado estar satisfeito com pouco? Não. Mas vale a pena a reflexão se tal postura é reflexo de uma simplicidade pessoal apenas ou de uma mediocridade de vida. Não fomos criados e nem recriados em Deus para a mediocridade.

E o que quero dizer com mediocridade? Uma postura de covardia diante da vida, de fazer o mínimo possível sempre. Não se trata de dinheiro, mas do que fazemos com os recursos que recebemos de Deus - sobretudo os que não são materiais. Aí o não ter não seria reflexo de simplicidade mas - curiosamente - de falta de dependência Dele.

Entende como às vezes se trata de uma linha tênue? Podemos ter pouco mas de forma alguma sermos medíocres - ou então sermos. Ou podemos ser ricos e extremamente medíocres - ou não. Tudo depende da nossa postura diante da vida e do chamado Dele para nós. Ou melhor dizendo, trata-se de mais do que postura, mas do nosso temor a Deus. Ele realinha nosso coração e nos faz ter uma perspectiva nova sobre nós mesmos, sobre o outro, sobre as coisas. Ele nos impulsiona, com o que somos e com o que temos, a sermos participantes ativos da história que Ele está escrevendo no mundo.

Referências bíblicas auxiliares:
Lc 16.13
Fp 4.12-13

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