Há Esperança!


Por fim a feiticeira aproximou-se. Parou junto da cabeça do Leão. Seu rosto vibrava e contorcia-se de ódio. O dele, sempre calmo, olhava para o céu, com uma expressão que não era nem de ira, nem de medo, um pouco triste apenas. Um momento antes de desferir o golpe, a feiticeira inclinou-se e disse, vibrando com a voz:
– Quem venceu, afinal? Louco! Pensava com isso poder redimir a traição da criatura humana?!
Quem já não leu o livro ou assistiu ao filme As Crônicas de Nárnia? Um novo mundo inteiro dentro de um guarda-roupa, mundo este que crianças curiosas descobrem por acaso, enquanto brincavam de pique esconde. O autor desse livro, C. S. Lewis, era de fato um cara brilhante: criativo, poético, humano ao escrever cada fala e colocar nos personagens um arquétipo moral de quem eu e você somos. Mas ele também era brilhante por um outro motivo também: conseguiu expressar sua fé em Cristo - sim, ele era cristão - em forma de histórias lúdicas para crianças e também marmanjos como eu.

O trecho que destaquei mostra o momento em que Aslam, o Leão, uma figura de Cristo, entrega sua vida para salvar humanos. É uma cena forte. Mas Aslam sabia exatamente o que estava fazendo. Por mais doloroso que fosse se submeter ao martírio, ele sabia que existia uma "magia mais profunda" que reverteria toda dor em alegria, toda morte em vida. A feiticeira, uma figura do maligno, pensou que havia triunfado. Pensou. Mas "des-pensou" no capítulo seguinte.

'Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu poder de ferir?' O que dá à morte o poder de ferir é o pecado, e o que dá ao pecado o poder de ferir é a lei . Mas agradeçamos a Deus, que nos dá a vitória por meio do nosso Senhor Jesus Cristo! (1 Coríntios 15.55‭-‬57)‬‬

Poderia ser apenas uma historinha de criança. Mas sabemos que foi exatamente o que Jesus fez por nós. Estávamos perdidos, condenados por nossos pecados (ou seja, transgredimos as leis da vida, que são as leis do Criador), e aparentemente não restava saída senão nossa morte eterna. Por mais que Deus seja bom, Ele também é justo. Ele não poderia simplesmente passar a mão na nossa cabeça e dizer "acontece, vai lá". Não. Afinal de contas, em última análise, tolerar o mal pra sempre é ser conivente, é ser mau também. E isso Deus não é. Então Ele se fez homem como nós e, na pessoa do Filho, representou a raça humana, satisfez a exigência de Sua própria justiça, morrendo a nossa morte. Se hoje podemos, pela fé, nos reconciliar com Deus e com nosso próximo, isso só é possível por conta da cruz de Cristo.

Ter isso como uma verdade pessoal é uma questão de fé. Ou seja, por mais que você entenda essa lógica do plano da salvação Dele, ache bonito inclusive, e entenda que a religião exerce um papel positivo na vida das pessoas em muitos aspectos, a fé é mais do que isso. Ela nos faz confiar em Deus. Não só acreditamos que tudo isso é verdadeiro, como queremos nos relacionar com Deus e nos submeter a Ele. Isso é questão de fé. Você pode crer ou não. Cada um tem um tempo.

Você não deve esperar ser "perfeito" pois ninguém é. Cristãos são tão ou mais imperfeitos que muitos que não são cristãos. A questão não é essa. A questão é: você reconhece que precisa de Cristo? Você quer entregar sua vida a Ele? É diferente. Deus nos abraça como somos e, na caminhada, da forma mais natural possível, vai nos mostrando um caminho mais excelente. Somos pessoas normais que saem, comem, se divertem, trabalham, interagem. Mas uma vez que tivemos um encontro verdadeiro com Jesus - sim, com Ele, não com a religião simplesmente - nosso olhar muda. Enxergamos coisas que nunca enxergamos. E a nossa vida muda.

Pois foi pra isso que Deus se aproximou de Suas criaturas: para nos dar uma nova vida, um novo olhar que muda tudo. E foi por isso que a morte não venceu Jesus. O nosso Deus é um Deus de vida e não de morte. Assim como no terceiro dia Ele ressuscitou, da mesma maneira Ele hoje sussurra em nossos ouvidos: "- Há esperança". Como é bom ter essa certeza intimamente!
Olharam. Iluminado pelo sol nascente, maior do que antes, Aslam sacudia a juba (pelo visto, tinha voltado a crescer).
– Aslam! Aslam! – exclamaram as meninas, espantadas, olhando para ele, ao mesmo tempo assustadas e felizes. – Você não está morto?
– Agora, não.

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